Os holofotes estão neles: conheça os negócios de moda comandados por pessoas pretas
- Mostra Revista
- 9 de jul. de 2021
- 8 min de leitura
Tomando as narrativas para si, estes jovens talentos mostram sua criatividade e seu potencial empreendedor no ramo de moda. Apresentando coleções de impacto, se estabelecem no cenário de moda nacional e abrem espaço para, o que esperamos ser, uma democratização de corpos e identidades na indústria.

Foto: Dendezeiro Reprodução / Divulgação
A indústria da moda vêm durante décadas bebendo de referências estéticas e culturais das comunidades e populações negras pelo mundo, e se apropriando dessas mesmas identidades para gerar produtos vazios de significância, descolando assim os discursos e potencialidades políticas e coletivas que essas construções têm, de forma a gerar lucro. Mais do que isso, as diversas marcas que se apropriam desses referenciais ganham reconhecimento e lucram em detrimento de pessoas pretas, que lutam diariamente para terem suas identidades e seus negócios reconhecidos. Abordar esse assunto é essencial para que nos conscientizemos dessas relações, creditemos os criadores originais e apoiemos seus negócios, ao invés de reforçarmos essa apropriação da indústria.
É imprescindível que reconheçamos as pessoas pretas em suas áreas de excelência, apoiando suas ações e iniciativas de forma mais direta, porque essa também é uma das frentes onde podemos apoiar uma política antirracista, fortalecendo essa grande parcela da população nacional. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2019, dos 209,2 milhões de habitantes do país, 19,2 milhões se assumiram como pretos e 89,7 milhões pardos. Esse número representa um crescimento em relação aos números anteriores do estudo, mostrando que cada vez mais os indivíduos estão se reconhecendo e tomando para si as identidades que antes não assimilaram em função dos sistemas de opressão da sociedade, que pressionam pessoas pretas a negação de suas culturas e identidades.
Quando passamos esses movimentos pro campo econômico, notamos que segundo o estudo realizado em 2019 pela aceleradora de empresários negros PretaHub, da Feira Preta, em parceria com a Plano CDE e o JP Morgan, empreendedoras e empreendedores negros movimentam R$ 1,7 trilhão por ano no Brasil e mais da metade – cerca de 51% dos brasileiros que empreendem – são pretos ou pardos. Destes, 52% são mulheres.
Estes, por sua vez, empreendem, segundo o estudo, por diversos fatores, entre eles: vocação, por serem engajados ou por necessitarem. O maior movimento é o de superar o elemento de necessidade, promovendo um espaço de vocação combinada ao engajamento, abrindo assim uma ampla plataforma catalisadora de mudança, representatividade e sucesso.
Apoiar estes jovens empreendedores é necessário e muito importante, uma vez que entendemos que as dinâmicas institucionalizadas do racismo se estendem também nas áreas dos negócios, bem como notamos o impacto positivo que essas novas narrativas de sucesso e reconhecimento tem para os empreendedores, para seus microuniversos e para sua coletividade num todo.
Pensando nisso, o NUMMA separou uma lista de empresas na área de moda que vêm ganhando destaque, seja desde pequenos designers iniciantes que já tem certo tempo de mercado. Trazendo elas à tona podemos propor um campo de maior visibilidade, e promover um melhor conhecimento desses negócios tão incríveis que por vezes não têm suas histórias contadas.
1. GRAMPO88

Foto: Grampo88 Reprodução / Divulgação
Nascida da iniciativa do designer Ramon Antônio da Costa, que cursa Design de Moda no Centro Universitário Belas Artes São Paulo, a Grampo88 é a concretização de um sonho de muito tempo do designer. O projeto que nasceu neste mês, março de 2021, é fruto de um processo iniciado já no ano passado, que envolve processos criativos, requisitos técnicos, seleção de equipe de apoio, etiquetagem… enfim uma grande junção de forças para materializar essa ideia.
O nome “Grampo88”, segundo Ramon, surge em decorrência de uma história pessoal na qual ele queria criar uma peça, em especial uma calça, porém não tinha o manequim necessário para tal, então ele utilizou de grampos para criar uma estrutura que suprisse essa necessidade. Esta anedota é combinada à seu número da sorte “8”, e seu ano de nascimento (1998) compõem o nome da marca.
Nesta primeira coleção, o criador propõe uma coleção mais simples, que ele mesmo propõe como o “básico” da sua marca, mostrando peças usuais e mais simplificadas, sem perder o estilo é claro. Camisaria tradicional repensada, calças fluidas, vestidos volumosos, estamparia e materiais de altíssima qualidade definem o drop.
2. FEMORAISBRAND

Foto: FemoraisBrand Reprodução / Divulgação
Em atividade desde 2015, a marca Femorais é pensada e desenvolvida pelo designer Felipe Morais, residente de São Paulo. Traz as referências do Street Style fortíssima e se propõe enquanto empresa com o objetivo de criar através do desejo do consumidor. O próprio designer descreveu sua marca para Igor Dadona como “ A sensação do poder de uma statement piece e autoestima que as peças trazem, é uma transformação do querer na realidade”.
Sua última coleção intitulada OROPA, lançada este mês, aborda uma nova visão sobre peças usuais como calças amplas, regatas com recortes inusitados, combinações de cores ousadas, biker shorts, tudo isso banhado em muito estilo e na originalidade de Felipe.
3. DEZENOVE98

Foto: Dezenove98 Reprodução / Divulgação
Nascida em 2020, pelas mãos e sonhos da designer de moda Ana Beatriz Vieira, a Dezenove98 é uma marca calcada em referenciais estéticos dos anos 90, com um amor especial e um ode a série “Um Maluco no Pedaço”, que muitos de nós crescemos vendo. A marca se põe no mercado como um negócio consciente, que leva peças com significados essenciais e atemporais, para todos os corpos e gênero, além de se pôr claramente numa posição de luta antiracista, lembrando que o ato de vestir e a moda também são intrinsecamente políticas.
Suas peças variam dos mais ousados vestidos à peças com recortes diferenciados como blusas e moletons, sempre levando em consideração o conforto e bem-estar dos consumidores. Além disso, o nome da marca é referente a uma data significativa para Ana, Dezenove98 (1998) é seu ano de nascimento, e nada mais simbólico que esse número para representar o nascimento de seu negócio.
4. DENDEZEIRO

Foto: Dendezeiro Reprodução / Divulgação
Lançada em 2019 por Hisan Silva e Pedro Batalha, a marca de Salvador instrumentaliza suas coleções de forma a criar narrativas nas passarelas. Dendezeiro representa muito bem a energia de troca e transformação que emana de seus criadores, que utilizavam de seu espaço não apenas para ocupar essa ambiência, como também para movimentar a cena criativa do Nordeste.
Os designers já apresentaram coleções em eventos como a Casa de Criadores, além de fazerem parte da equipe do FFW. São considerados um dos destaques e talentos emergentes da nova geração de artistas e criadores brasileiros por inúmeros veículos de moda nacionais.
5. ZÂMBIA

Foto: Zâmbia Reprodução / Divulgação
Criada em outubro de 2017, pela designer de moda Vivian Ramos, a marca é a concretização de um sonho de sua fundadora, que via em acessórios uma paixão irredutível desde a infância. Cria em suas coleções produtos que respondem às sensibilidades e vivências reais de mulheres, através de um olhar moderno sobre o design, mas que mantém sua essência. Busca no design autoral e no DNA brasileiro, a marca se norteia para mulher contemporânea e empoderada e traz uma fuga dos padrões.
Como a própria marca coloca, sua produção fortalece uma rede mais artesanal e coletiva. Segundo seu site: "Nossas peças são confeccionadas manualmente, pela designer e por artesãos da baixada fluminense, bordadeiras, costureiras, crocheteiras, fábricas e confecções de imensa competência, que desenvolvem nossas criações com total carinho e comprometimento. Muitos destes profissionais estavam fora do mercado de trabalho, ou viram sua demanda de trabalho diminuir significativamente. Nosso objetivo é ajudar e incentivar esses colaboradores para que eles possam progredir e se especializar ainda mais, aumentando sua demanda de trabalho e movimentando a mão de obra da região nos setores de moda, acessórios, calçados e confecção.”.
6. AZULERDE

Foto: Azulerde Reprodução / Divulgação
Azulerde nasce enquanto ideia em 2015, mas toma forma e se concretiza em 2017 pelo esforço e trabalho da designer Karla Batista. A fundadora, mulher preta e pernambucana idealizou um projeto que pudesse ser um ambiente de troca de ideias e processos criativos, através de narrativas sensíveis e de empoderamento em suas coleções.
Seus produtos utilizam de uma perspectiva consciente e comprometida ambientalmente, se inspirando nas artes plásticas e em processos de upcycling. Como a própria marca coloca em seu site: “Visamos a reaproximação das perspectivas artísticas na contemporaneidade, e por meio da produção, que é em sua maioria feita a partir de reaproveitamento de resíduos sólidos (upcycling) coletados em Recife (PE).” Algumas de suas coleções são “Lírica”, “Recorte”, “Aláfia” e “Euforia”.
7. ANGELA BRITO

Foto: Angela Brito Reprodução / Divulgação
Natural de Cabo Verde, Angela Brito carrega consigo uma bagagem enorme de seu país de origem, sendo ele intrínseco à formação de sua identidade, referenciais estéticos e memórias. Mesmo assim, a designer se considera uma cidadã do mundo, uma vez que já viajou por diversos países até chegar até aqui, no Brasil, onde reside atualmente.
A designer já trabalhou nas áreas de tecnologia mas foi na moda, em especial na criação de sua marca homônima que encontrou a realização pessoal, um meio de expressar a si e à sua criatividade.
A marca que nasceu em 2014 busca ser um viés transformador e libertário. Segundo a empresa propõe: “O design é inspirado na reinvenção das imagens vivas em suas memórias cabo-verdianas, e é pensado como lugar de diálogo entre tradição e vanguarda, onde continuidade e inovação se movem paralelamente. A marca tem como interesse gerar novas percepções e possibilidades a partir de um relacionamento sustentável com as experiências e modos de vida daqueles que, com a marca, se identificam e desejam consumir um produto local feito a mão no atelier.”
8. A-AURORA

Foto: A-Aurora Reprodução / Divulgação
Nascida através dos esforços e ideias de Izabela Suzart, a marca A-AURORA é um negócio brasileiro de acessórios que tem como objetivo unir moda e arte, em uma declaração pessoal pela cultura brasileira. Produzido e pensado a partir de uma mentalidade e processo produtivo nacional, a marca se põe no mercado marcada pela alta qualidade, mistura de materiais, formas esculturais e exclusividade.
A marca se iniciou graças a uma matéria que Izabela teve na faculdade, focada na criação de sapatos, e desde então o caminho se tornou claro para onde ela queria investir e se lançar. A marca reside com seu ateliê no Rio de Janeiro, e define seu público como “todos que apreciam design, arte e produtos customizados".
9. 370

Foto: Loja370 Reprodução / Divulgação
Criada em 2016, pela iniciativa de três mulheres fortes e que representam gerações, a 370 foi criada dando continuidade à uma paixão e vocação familiar pela costura e pela moda. A designer Glaucia Lopes, constrói essa marca seguindo os passos de sua avó, juntamente com sua mãe Cida e sua tia Angela.
A marca traz uma proposta familiar e eco-friendly, utilizando tecidos sustentáveis provenientes de garrafas PET. Buscam no conforto do dia-a-dia e na praticidade de suas peças nortear o seu propósito, proporcionando assim, aos seus clientes, peças que combinem a estética e a liberdade de vestir. Sua principal plataforma de comunicação é seu perfil no Instagram, e por lá você consegue conferir depoimentos, informações sobre as designers, lançamentos e muitos outros tipos de conteúdo.
10. BAOBÁ BRASIL

Foto: Baobá Brasil Reprodução / Divulgação
Após uma viagem para Moçambique, no qual adquiriu novas vivências e experiências culturais, a paulistana Tenka Dara decidiu criar sua própria marca de vestuário, unindo a paixão pela moda com suas lutas políticas, instrumentalizando as roupas como objeto de luta e resistência.
A paulistana que é formada em Artes Cênicas e Comunicação fundou em 2006 a Baobá Brasil, a partir de referências artísticas e estéticas africanas. A marca se propõe como o "afro contemporâneo" e também “afrourbano”, e como a mesma diz: “Majoritariamente produzida por mulheres na força de um coletivo, a Baobá veste, embeleza e fortalece um corpo de luta. Mais do que sobre tendências, fala de trajetórias e conquistas políticas e sociais que antecedem a sua própria história. Usando a moda como ponte de conexão ancestral, as mulheres deixam um pouco de si na Baobá e levam um pouco da Baobá em si.”
A marca é ícone quando se fala na combinação de modernidade e tradição, havendo um dinamismo muito grande em seu escopo e leque de criações. Por sua vez, o nome da marca surge em relação com a árvore africana milenar que representa a sabedoria ancestral, simbologia, esta, que é trazida para o cenário urbano. Sua matéria-prima inicial, em 2006, eram as capulanas, que permanecem até hoje como sua matéria-prima principal na criação de roupas e acessórios





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