Ícones em ascensão: o estrelato de Maisa e Camilla de Lucas na indústria fashion brasileira.

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Por: Rafael Braz e Rodrigo Pinheiro.

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Não é de hoje que a busca por representatividade em espaços diversos ganhou força com a protagonização das redes sociais na sociedade. Esse fenômeno, que facilitou a construção de personalidades públicas, também impactou a indústria da moda, ainda que em passos lentos, entendeu a importância da pluralidade, e a necessidade de o consumidor sentir-se parte do conteúdo proposto. E é nesse contexto que não só o mercado publicitário, como o casting de celebridades para campanhas de moda são moldados. Hoje, não há mais espaço para cânones irreais de beleza ou pessoas 'intocáveis', muito menos padrões inalcançáveis, principalmente quando se trata do lançamento de tendências. Se antes elas eram pesquisadas, cunhadas e popularizadas por profissionais da área, hoje vemos que influenciadores digitais também possuem um grande papel na reprodução e disseminação dos próximos modismos.

Durante sua participação no BBB 21, além de ter conquistado mais de 17 milhões de seguidores em suas redes sociais, a influencer Camilla de Lucas também impulsionou sua carreira na indústria da moda, tendo sido capa de grandes revistas como Harper’s Bazaar Brasil (@bazaarbr) e ELLE View Brasil (@ellebrasil).

Capa ELLE View/Ed. Maio de 2021 | Fotografia: Pedro Pinho | Styling: Suyane Ynaya e Lucas Boccalão

Essa relação de Camilla com a moda não é recente. A fluminense de 26 anos revelou, em uma entrevista para o portal GSHOW, que muito antes de sua ascensão na mídia digital já havia feito diversos testes para trabalhar como modelo, mas teria sido rejeitada e desencorajada durante as audições, expondo tanto o preconceito quanto o conservadorismo que, infelizmente, ainda estão presentes na indústria.

A influencer, que é autointitulada “blogueirinha real” e já foi atendente de imobiliária, cresceu na internet através de sua espontaneidade e leveza ao tratar de assuntos cotidianos da vida simples em Nova Iguaçu (RJ). Sempre uma das mais altas nos ambientes em que frequentava, desde o núcleo familiar até a escola, seus 1,79m de altura já foram motivo de insegurança. O tema, que já foi abordado em um dos vídeos de seu canal no YouTube, "PROBLEMAS DE PESSOAS ALTAS!”, expõe os inúmeros desafios que uma pessoas com o corpo fora do padrão enfrentam, inclusive na moda.

Entretanto, agora que um leque de oportunidades foi aberto, e seu carisma encantou o mundo, a blogueira está utilizando de sua plataforma e prestígio, para se tornar uma referência entre os jovens, e espera quebrar as barreiras que dificultaram o seu caminho e de muitas outras pessoas racializadas dentro do mundo fashion.

Para se ter uma ideia, foi apenas em 1966 que uma mulher negra protagonizou a capa de uma revista de moda: a supermodelo e atriz Donyale Luna estampou a capa da edição de março da Vogue Britânica daquele ano. Desde então, ainda que grandes figuras pretas como Naomi Campbell e Tyra Banks tenham deixado seu legado, o espaço de protagonismo para pessoas racializadas e não-brancas no cenário de moda é bastante limitado. Um exemplo disso é a matéria publicada pelo site de notícias The Pudding, revelou que de 2000 até 2005, apenas 3 das 81 edições publicadas na revista Vogue USA continham mulheres negras e, apenas no ano de 2018, teve seu primeiro fotógrafo negro após 125 anos de impressão.

Donyale Luna para Vogue USA Ed. Março 1966 | Fotografia: David Bailey

Um dos atos mais marcantes da influencer em sua vida pós-BBB, foi o editorial realizado para a revista Harper’s Bazaar Brasil, que se destacou não só pelas belas imagens captadas pelo fotógrafo brasileiro Anthenor Neto, mas também pela excelente curadoria de peças realizada pelo editor de moda e stylist Victor Borges. Apesar de ser só o começo de uma longa jornada, Camilla obtém cada vez mais sucesso e visibilidade, ocupando novos espaços e pavimentando o caminho para as futuras gerações.

Harper’s Bazaar Brasil de Julho 2021 | Fotografia: Anthenor Neto | Styling: Victor Borges

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Outro exemplo de destaque em ascensão no cenário de moda nacional é Maisa, que, no auge de seus 19 anos, se tornou uma referência para toda uma geração. Presente nos holofotes desde pequena, a apresentadora e atriz é considerada uma das porta-vozes da “Geração Z”. O título veio com o protagonismo da artista frente às causas sociais que defende utilizando sua imensa plataforma de milhões de seguidores na internet.

Maisa | Fotografia: Franklin de Almeida | Styling: Rita Lazzarotti | Reprodução Instagram

Desde os vestidos que utilizava no Bom Dia & Cia até os sapatos de seus photoshoots pessoais, Maisa vêm se tornando um ícone fashion e, assim como Camilla, faz bom uso de sua visibilidade pautando temas como amor próprio e aceitação de suas características. No caso de Maisa, essa questão relaciona-se a seu cabelo, cacheado por natureza e marca de seu visual quando criança, que fora alisado quando adolescente objetivando uma aparência mais adulta. No entanto, em 2019, após sete anos realizando procedimentos químicos para alisá-lo, a apresentadora passa por um processo de transição capilar, que, segundo depoimento pessoal em vídeo publicado em seu canal no YouTube, é uma mudança que não se trata apenas da saúde dos fios, mas é principalmente um processo de aceitação de si mesma. “Estou redescobrindo o meu cabelo.”, disse.

Maisa | Reprodução Instagram

A artista, que também é umas das defensoras da moda como um meio de expressão, regularmente compartilha com seus fãs trabalhos que faz parte, dentre eles, a capa da revista digital ELLE View de dezembro de 2020 e outros photoshoots comerciais utilizando roupas de grandes marcas como Vetements, Louis Vitton, Chopova Lowena e Simone Rocha, e demais projetos nos quais colabora com grandes profissionais como as stylists Rita Lazzarotti e Carol Roquete, e o maquiador Krisna. Esses trabalhos marcam não só o ganho de maturidade da atriz, mas também o início de uma nova fase. Profissional desde muito cedo, Maisa adaptou seu estilo de acordo com as apresentações e trabalhos vigentes. As roupas eram escolhidas a dedo e, condicionadas a estarem em harmonia com a idade da apresentadora, algo que fora exigido pelos seus pais que nunca quiseram fazê-la amadurecer de forma precoce, mesmo assumindo tantas responsabilidades desde muito nova. Assim, no período que esteve à frente do programa matinal Bom Dia & Cia do SBT, seu estilo marcou-se pelo visual retrô inspirado na atriz estadunidense Shirley Temple, sugerido pelo próprio Silvio Santos. Foi nesse período em que os cachinhos e os ‘vestidinhos’ marcaram sua assinatura. Em 2012, a atriz adotou uma nova estética; com os cabelos alisados e roupas mais descoladas, o estilo nasceu junto com sua personagem Valéria de Carrossel, também no SBT. Desde então, busca sua própria forma de expressão por meio da moda, que vai da escolha de suas roupas ao esmalte na unha. Segundo ela, tudo é válido.

“Acho que as pessoas estão entendendo mais ou menos quem eu sou através do que eu visto, e isso é muito muito legal.” disse em entrevista para a ELLE View.

Imagem 1. Capa da ELLE View Ed. Dezembro 2020 | Fotografia: Pedro Pinho |Styling: Rita Lazzarotti

Imagem 2. Reprodução Instagram | Fotografia: João Viegas | Styling: Rita Lazzarotti

Imagem 3. Reprodução Instagram | Fotografia: João Viegas | Styling: Rita Lazzarotti

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Camilla e Maisa, apesar de possuírem lutas e vivências diferentes, trabalham para conscientizar seu público no que diz respeito à amar e assumir suas diferenças. Espera-se que novos formadores de opinião, assim como elas, possam cativar e promover um movimento de auto aceitação, seja por meio da moda ou por outra plataforma de expressão.

Referências

ANDRÉ ALOI (São Paulo). Harper'S Bazaar Brasil. CAMILLA DE LUCAS SOBRE ESTREIA COMO ATRIZ: “QUERO CONTINUAR ESTUDANDO”. 2021. Disponível em: https://harpersbazaar.uol.com.br/estilo-de-vida/camilla-de-lucas-sobre-estreia-como-atriz-quero-continuar-estudando/. Acesso em: 20 jul. 2021.

DREAM CAZZANIGA (Uk). Vogue Uk. Remembering Donyale Luna, The First Woman Of Colour Ever To Appear On The Cover Of Vogue. 2019. Disponível em: https://www.vogue.co.uk/article/donyale-luna-model-vogue. Acesso em: 20 jul. 2021.

FERNANDA MENA (Brasil). Diário de Notícias. Nunca houve tantas mulheres negras em capas de revista. 2018. Disponível em: https://www.dn.pt/mundo/negras-em-revista-9913108.html. Acesso em: 20 jul. 2021.

LILIAN PACCE (São Paulo). Blog Lilian Pacce. A “Vogue” coloca bastante mulher negra nas suas capas? 2019. Disponível em: https://www.lilianpacce.com.br/e-mais/reciclese/vogue-mulheres-negras/. Acesso em: 20 jul. 2021.

NATHALIA LEVY (São Paulo). Elle Brasil. Maisa: "As pessoas duvidam de jovens mulheres, mas eu nunca me intimidei com isso". 2020. Disponível em: https://elle.com.br/moda/maisa-e-capa-elleview-dezembro. Acesso em: 20 jul. 2021.

THAIS PRADO. Mundo Negro. Mulheres negras ocupam capa de grandes revistas no mês de Julho. 2020. Disponível em: https://mundonegro.inf.br/mulheres-negras-ocupam-capa-de-grandes-revistas-no-mes-de-julho/. Acesso em: 20 jul. 2021.